Como um homem descalço, a tarde caminhava lenta e calma sobre a areia da praia. As ondas extasiadamente baloiçavam ao sabor do vento, lembrando a irrealidade da beleza do mundo. Enquanto a tarde olhava, com tristeza passageira, o seu rosto velho e gasto reflectido nas águas, sentia-se perpetuado sobre o horizonte a finitude de todas as coisas mundanas. A brisa, com um olhar ausente e alheio à efemeridade corpórea, dançava despreocupadamente com o tempo, enquanto este torneava tudo à sua volta no universo. Do poente ouvia-se um crescendo de fatalidade, um murmúrio quase inaudível, feérico até, sentia-se um aroma pérfido de perdição. Nada mais do que patéticos subterfúgios do destino à decadência humana, meio artificioso ou subtil aos olhos mortais. Fiquei, entre um misto de terror e fervor, entontecido e entorpecido a observar este belo espectáculo da natureza.
Como um homem descalço, vulnerável à sensibilidade a cada pedra encontrada, sensível a cada alma e paisagem, caminhei sobre a vida.
Texto por: wilson de figueiredo
Imagem por: wilson de figueiredo